MOURINHO DA CULTURA

Monday, November 26, 2007

NAS RUAS COMO UM FANTASMA


'À noitinha, carregámos os nossos instrumentos em cima de uma carroça e fomos ao Serralho. Agora, eu gostava das ruas de Instambul; imaginava que me tornara invisível, atravessando as ruas como um fantasma, passando entre os grandes plátanos, castanheiros e olaias, que enchiam os jardins. (...)
Todas as noites, estendia-me as mãos com que, afirmava, tocara nas pessoas ao longo do dia. Eu esperava sem me mover, petrificado exactamente como quando, ao despertar, alguém descobre que tem um escorpião a passear-lhe pelo corpo.Os dedos do Mestre não eram parecidos com os meus, eu sentia-os a remexerem em mim, gelados, enqunto me perguntava:"Tens medo?". Eu continuava sem me mover. "Tens medo.Porque tens medo?" Às vezes tinha vontade de lhe empurrar a mão e de lutar com ele, mas sabia que isso não faria mais do que aumentar-lhe a raiva."Vou dizer-te porque tens medo. Tens medo porque és culpado. Tens medo porque chafurdaste no pecado. Tens medo porque acreditas bem mais no que te digo do que eu no que tu me contas!"(...)
Um pouco antes do meio-dia, atordoado pela multidão, e pelos mortos, atravessei o Corno de Ouro para ir a Galata; dei a volta pelos cafés de operários em redor do Arsenal, onde timidamente fumei narguilé; almocei numa tasca; sempre impelido pelo desejo de compreender, entrei nas lojas; percorri os mercados. Queria gravar tudo no meu espírito, com os mínimos pormenores, a fim de chegar a uma conclusão. Caiu a noite, exausto, voltei a casa e ouvi o Mestre, que acabava de chegar do Serralho.(...)
Finalmente avistámos o castelo. Erguia-se sobre uma colina bastante elevada; o fulgor do sol poente tingia ligeiramente de vermelho as suas torres, onde esvoaçavam os estandartes. Era branco, imaculado e muito belo. Não sei porquê, pensei que não podia imaginar senão em sonhos uma coisa tão bela e tão inacessível'.


in 'A Cidadela Branca', de Orhan Pamuk

Baba Zula - Tilki Dans'

A minha descoberta de hoje, tão romântica como inspiradora é este grupo turco de música electrónica e transe, que baseia os seus temas experimentais e de dança, numa combinação perfeita de percussões étnicas e registos programados, com improvisações instrumentais, tons vocais e folclóricos de raízes otomanas. Uma maravilha…. como demonstra um excerto deste tema intitulado ‘Tilki Dans'’, visualmente também muito apetecível.

Sunday, November 25, 2007

DÁ-ME MIL BEIJOS...


'Dá-me mil beijos, a seguir cem, depois outros mil, a seguir mais cem, a seguir mil, depois cem; por fim, quando tivermos somado muitos milhares, baralhemos a conta para não a sabermos e para que nenhum invejoso nos possa lançar mau olhado quando souber que demos tantos beijos'.

in Roma Clássica, Carta de Amor de Catulo a Lésbia

JP Simões & Luanda Cozetti - Se Por Acaso (Me Vires Por Aí)

Saturday, November 24, 2007

CRUZANDO A PONTE PARA O ORIENTE...

Crossing the Bridge, de Fatih Akim (A Noiva Turca) é uma viagem musical por Istambul, num documentário sobre a pluralidade da cultura musical turca, uma éspecie de ponte de passagem entre o ocidente e o oriente, separados apenas pelo estreito de Bósforo, e por uma cidade que são dois mundos.



babazula, crossing the bridge (the sound of istanbul)

O AMOR É A MINHA RELIGIÃO...

O meu coração tornou-se capaz
De aceitar toda a imagem.
É passo para as gazelas,
Convento para os monges,
Templo para os ídolos,
O Kaaba dos peregrinos,
As tábuas da Tora e o Livro do Corão.
Creio na religião do Amor,
Seja qual for a direcção que as suas montadas sigam.
O Amor é a minha religião e a minha fé.

Ibn Arabi

Friday, November 23, 2007

PALAVRAS QUE NOS BEIJAM


Há palavras que nos beijam

Como se tivessem boca.

Palavras de amor, de esperança.

De imenso amor, de esperança louca.



Palavras nuas que beijas

Quando a noite perde o rosto;

Palavras que se recusam

Aos muros do teu desgosto.



De repente coloridas

Entre palavras sem cor,

Esperadas inesperadas

Como a poesia ou o amor.



( O nome de quem se ama

Letra a letra revelado

No mármore distraído

No papel abandonado )



Palavras que nos transportam

Aonde a noite é mais forte.

Ao silêncio dos amantes

Abraçados contra a morte.





Alexandre O'Neill

PENSAMENTO DO DIA (2)


'Quando amamos sinceramente o que é digno de amar, sem dispensar o amor pelas coisas insignificantes, nulas e enfadonhas, obtemos ao nosso redor mais luz e isso dá-nos mais força'

Van Gogh

Monday, November 19, 2007

O que há em mim é sobretudo cansaço




Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço.



A subtileza das sensações inúteis,

As paixões violentas por coisa nenhuma,

Os amores intensos por o suposto alguém.

Essas coisas todas -

Essas e o que faz falta nelas eternamente -;

Tudo isso faz um cansaço,

Este cansaço,

Cansaço.



Há sem dúvida quem ame o infinito,

Há sem dúvida quem deseje o impossível,

Há sem dúvida quem não queira nada -

Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:

Porque eu amo infinitamente o finito,

Porque eu desejo impossivelmente o possível,

Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,

Ou até se não puder ser...



E o resultado?

Para eles a vida vivida ou sonhada,

Para eles o sonho sonhado ou vivido,

Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...

Para mim só um grande, um profundo,

E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,

Um supremíssimo cansaço.

Íssimo, íssimo. íssimo,

Cansaço...



Álvaro de Campos

Sunday, November 18, 2007

PENSAMENTO DO DIA


‘Deus não outorga
a Sua guia a gentes
que deliberadamente fazem o mal’

(Corão 9:109)

Monday, November 12, 2007

BENFICA 6 - BOAVISTA 1



Rui Costa: «No caminho certo!»

DA SUSAN MILLER...




CAPRICORN
You'll want to be in top form in December - your big month - when many planets will come 'round to Capricorn to celebrate YOU. You will be named as the very luckiest zodiac sign for 2008! You'll wear the crown for a full year! At long last your trials and tribulations that you suffered from mid-2003 to mid-2005 appear to be receding into history. You won't ever want to revisit that period! It's over and done. Lock and door and throw away the key!
A new day is dawning for you, and a new emerging period of enormous expansion. This special favor couldn't happen to a more deserving person.

A ESQUINA DO MUNDO




Golden Gate, Grand Café, Funchal, 1841

‘Aquele ângulo do Funchal era entre as esquinas do Mundo, uma das mais dobradas pelo espírito cosmopolita do século. Em viagem de recreio ou em trânsito para as África e Américas, davam volta ao cunhal do Golden Gate diariamente, homens e mulheres de numerosas raças, a passo vagaroso, o nariz no ar, as mãos carregadas de cestos, de garrafas, e de bordados da Madeira’.

In Eternidade, de Ferreira de Castro


T. ….E tu também passeavas por lá, com as tuas mãos bordadas, o teu passo vagaroso e esse teu jeito de pôr o nariz no ar…o café era bom!

IX

Agora é tarde.
O tempo não secou as lágrimas.
Passou simplesmento, lento e doloroso.
Caiu a noite no dia,
no dia em que ainda dava tempo.
E os meus olhos fecharam-se,
feridos pela luz negra do vazio.

X

Os meios amores
As meias palavras
As meias verdades
Mais vale nunca terem existido

In Atavios, de Teresa Klut

Thursday, November 01, 2007

EL PERRO EXISTENCIALISTA




Jerry dormia para comer, dormir y cagar
Era una vida cómoda, pero tenia insomnio por su angustia vital
Sentia que tudo era estúpido, y la estupidez de quienes le rodeaban
Le recordava a la suya propia

Asi que se puso a leer. Leyó a Aristóteles, y a Kant…
Luego a Nietzsche y a Kierkegaard.
Pero tras leer a Socrates sentia que cuanto más leia, menos sabia.

Entonces se dio a la bebida y a las malas perras,
Deambulou por todos los antros, arrastrándose a duras penas.

Un mal dia cnoció a una dama que le fascinó,
Buscó en ella el sentido de su vida…pero ella se agobió.
Jerry lloró y aulló, por las mismas calles de sus fiestas deambuló…

…Hasta que un perro evangelista le encontró.
El le enseñaria el camiño de la iluminación…
A cambio de su rata de goma y un par de huesos.
Le explicó que si le seguia, tras la muerte visitaria un lugar
Donde no hay nada que hacer más que lamerse la entrepierna. Jerry le contestó: “Nada que hacer? Un lugar sin sentido ni ocupacion?…Alli no voy yo!”

Poco después, Jerry encontró la solucion.
Hasta el fin de sus dias, se centró en una ocupación.
Un estupendo trabajo en una sucursal de correos…
Lamiendo sellos, para cartas de promoción.

In ‘El perro existencialista y otros cuentos de perros’, de Zoe Berriatúa

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