MOURINHO DA CULTURA

Tuesday, February 05, 2008

‘HEIMA’, BY SIGUR RÓS: UMA PINTURA MUSICAL


Começo por dizer que não sou um fã incondicional dos Sigur Rós e aliás há já alguns anos que não acompanhava a música da banda islandesa. A Islândia, um país algo esquecido na Europa da cultura, tem curiosamente dado grandes lições de criatividade ao conjugar a tradição com a modernidade, talvez porque seja também num dos melhores países do mundo para se viver e ter o índice de desenvolvimento humano mais elevado do mundo, associado à alta qualidade de vida da sua população.
Esta visão tem tido particular destaque na música alternativa com os Sigur Rós, os Sugarcubes e, evidentemente com Bjork, um grande símbolo da pequena ilha, aparentemente perdida nos mares da Escandinávia, cuja população era, em Julho de 2007, de 311.396 habitantes. No turbilhão de lançamentos de cinema e DVD de filmes, ao qual como estou mais ligado, não fosse aqui o meu amigo Helder Aranha do Santiago Alquimista, passar-me-ia despercebida esta edição do primeiro filme dos Sigur Rós intitulado HEIMA (quer dizer EM CASA), realizado curiosamente por um homem da animação, o canadiano Dean Deblois, que dirigiu Lilo & Stitch.

REGRESSO A CASA
Heima é um inspirado e nostálgico registo documental e não um verdadeiro DVD musical na sua essência. Talvez por isso se possa desfrutar mais dele, para além da música, de um olhar cinéfilo, diferente dos registos dos concertos ao vivo que, normalmente, constituem os DVD musicais. Depois de passarem mais de um ano promovendo por todo o mundo o seu último álbum Takk, os Sigur Rós marcaram o seu regresso a casa realizando uma série de quinze concertos gratuitos por toda a Islândia, numa verdadeira acção de descentralização cultural e de agradecimento ao seu povo e à inspiração dada pelo seu país e cultura, que os tornaram internacionalmente famosos. Por isso, em Heima poderemos ver partes do faustoso concerto final, em Reykjavík, mas também excertos de concertos em espaços naturais e desérticos, em desactivadas fábricas de peixe ou em locais completamente improváveis, alguns deles acústicos e sem recurso a equipamentos de amplificação do som, sempre intercalados por depoimentos dos elementos do grupo. Um desses locais míticos é, por exemplo, horseshoe canyon em Ásbyrgi, onde, segundo reza a lenda, está a impressão da pata do cavalo de Odin. É efectivamente nestas pequenas magias das paisagens verdes, frias e ventosas da Islândia, dos sons telúricos dos glaciares, dos céus cinzentos onde voam papagaios de papel, das praias de águas escuras e de areias negras e vulcânicas onde brincam crianças, que se inspira Heima, um filme que alia as suas belas imagens à música, ora de cariz épico, ora de cariz intimista dos Sigur Rós, música essa que está imbuída da cultura local, numa simbiose perfeita, com pormenorizadas estilizações cénicas de realização e produção vídeo. Este excelente documentário é ainda uma espécie de colectânea, já que se podem ouvir temas dos quatro álbuns dos Sigur Rós, bem como, outros inspirados momentos, de relação dos músicos com o seu povo, com as culturas locais, os coros, as bandas de música e principalmente com o rimur, uma forma tradicional de cantar islandesa de origem viking.



ATÉ OS AVÓS GOSTAM
Que influência poderá ter na música o lugar onde nasceu e vive um grupo tão heterogéneo de pessoas, que formam uma banda tão sui generis? No caso dos Sigur Rós estes elementos são decisivos na sua criação musical. Ao visionarmos este extraordinário documentário apercebemo-nos de quanto a música dos Sigur Rós se integra perfeitamente na cultura e na paisagem islandesa, mas ao mesmo tempo nas raízes europeias e, nórdicas ou não, arrisco ao encontrar um um pouco da nostalgia portuguesa, que inspira entre outros, os cantares alentejanos e mesmo o fado. Há qualquer coisa de tão longe e de tão próximo de nós no conceito musical dos Sigur Rós...
Durante o filme, vamos descobrindo paisagens enormes de uma beleza indescritível, as reflexões dos músicos sobre o seu país de origem do qual eles tiram toda a inspiração para a sua música, um país, que segundo um deles, ‘tem coisas que já são raras hoje em dia’. Vamos descobrindo ainda as suas magníficas actuações em aldeias e locais recônditos, como no planalto mais alto da Europa, agora coberto pelas águas de uma barragem. Uma das coisas mais interessantes do filme, é como nos concertos dos Sigur Rós consegue-se juntar toda a gente, desde os avós às crianças de mais tenra idade, numa harmonia perfeita, e todos apreciando o prazer do som e dos ambientes naturais, negando a ideia de que um certo tipo de música alternativa é destinado apenas a um grupo muito restrito de pessoas ou apropriado só a determinados locais.

PINTURA MUSICAL
O filme culmina com um histórico climax documental e fortemente visual do tema Untitled 8 interpretado ao vivo no grande concerto final de Reykjavik. A emoção é arrepiante deixando-nos pregados ao sofá como se observássemos uma obra de arte e ao mesmo tempo numa experiência sensorial que parece transportar-nos a mil lugares ou a viver mil sensações. Na verdade não conhecia muito bem esta banda islandesa. Mas, depois de ver o DVD, é impossível não ficar apaixonado pela a sua música e por um país que definitivamente ficou na lista dos meus próximos périplos.

Disco 1: Filme com 97 minutos sobre a tour que a banda fez na Islândia em 2006/2007. Audio in DTS 5.1, Dolby Digital 5.1 surround sound and PCM stereo. Inclui comentários do manager John Best.

Disco 2: Bonus footage
As versões completas de todas as canções do filme. Entre as várias performances exclusivas inclui ainda a performance do novo tema "Heima". Audio in DTS 5.1, Dolby Digital 5.1 surround sound and PCM.

Inclui ainda outros extras como um documentário e uma galeria de fotos da tour e ainda algumas notas sobre a produção.

In ‘Introduzindo Heima’, a film by Sigur Rós, apresentação a 02/02/2008, no Santiago Alquimista,

1 Comments:

Blogger Escatumbar said...

Por coincidência estava eu a ouvir Sigur Rós quando naveguei para esta página e encontrei este post! Conheço a banda há pouco tempo mas hipnotisou-me de imediato. Demonstram grande sensibilidade por todo o seu trabalho e, aparentemente, este filme é mais uma vez uma obra artística digna ser contemplada e ouvida!

1:27 PM  

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