MOURINHO DA CULTURA

Tuesday, June 24, 2008

BAMBOO BLUES, DE PINA BAUSCH: UMA ÍNDIA DE SONHOS



De Istambul a Hong Kong, do Brasil a Lisboa, não importa em que ponto do mundo, Pina Bausch vem captando ao longo das suas últimas obras, e fruto das suas residências artísticas, a essência dos lugares e dos seus habitantes. São as cores, cheiros, texturas, sabores, os sons e a música, que marcam a sua impressão desses lugares muito além do visível, e curiosamente com um humor que não era de todo um recurso dramatúrgico em obras tão emblemáticas como Sagração da Primavera (1975), Café Müller (1978), Kontakthof (1978), 1980 (1980) e Viktor (1986), símbolos de uma linguagem revolucionária, que espantou os espectadores e teve a sua estreia portuguesa, com Auf dem Gebirge hat man ein Geschrei gehört (E na Montanha ouviu-se um Grito, de 1984), nos Encontros Acarte de 1989.
Se os seus trabalhos já não são os mais referentes de um danztheatre, que já teve melhores dias, como se viu no recente Festival Pina Bausch realizado em Lisboa há pouco mais de um mês, são pelo menos mais felizes e conciliatórios com a vida e serão sempre uma reavaliação das transformações dramatúrgicas de Bausch, do seu percurso e do novo mundo em que vivemos. É novamente o espírito da descoberta e de uma Índia em transformação, o mais recente porto de escala, que marca o seu último trabalho Bambu Blues, uma produção de maior escala do que as habituais residências e que conta com um elogioso guarda-roupa de Marion Cito e a direcção musical de Matthias Burkert e Andreas Eisenscheneider. A coreógrafa alemã volta a criar em palco uma amálgama de sensações e prazeres, aliados aos doces e poderosos movimentos. A suavidade dos movimentos a solo prevalece em relação ao conjunto dos bailarinos, num envolvimento traçado pelos tecidos coloridos, pelo algodão, e pelos cenários e vídeos de Peter Pabst, o seu habitual art designer, combinados com os inebriantes movimentos das danças indianas e uma luz, uma luz celestial que nos transporta para uma Índia dos nossos sonhos.

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