MOURINHO DA CULTURA

Monday, July 21, 2008

ISTAMBUL: CAPITAL DO MULTICULTURALISMO





Istambul é uma cidade do ‘outro mundo’ e está povoada de artistas que tentam combinar as suas riquezas culturais e tradicionais com a cultura europeia e, além do mais, imbuídos de uma espantosa energia no campo da criação e da arte contemporânea. Isto, contrastando com uma Europa estagnada, renitente à integração da Turquia, mas que parece procurar cada vez mais os novos valores estéticos e culturais nos fenómenos das migrações e do multiculturalismo. Há muito que Istambul é a capital do multiculturalismo, isto praticamente desde o princípio do mundo. Da literatura à gastronomia, passando pelo cinema e vídeos, dança, música alternativa e música tradicional, em Istambul tudo parece associar-se e fundir-se numa amálgama de culturas em trânsito, em vários sentidos, renascendo numa espantosa combinação e harmonia criativa.



Para quem visita Istambul, a capital cultural da Turquia, Beyoglu - bairro 'in' da cidade – tem um ambiente cosmopolita que se infiltra no nosso imaginário criando momentos tão soltos, quanto insólitos, em relação ao que para nós são esses estranhos contrastes da modernidade com a tradição, do espírito do Ocidente com o Oriente. No entanto, em toda a cidade, do Sulthanamet a Beyoglu, interligam-se as nossas reminiscências de um passado cultural, estudadas na história de Constantinopla ou de Bizâncio, com as gentes, a música tradicional turca, os meazzines das mesquitas, os belos palácios dos sultões, os sons ocidentais e orientais, a paisagem do Bósforo com a ponte em fundo, aliás bastante semelhante à Ponte 25 de Abril, e até a deliciosa comida nos seduz o paladar.



E tudo isto de uma forma extraordinariamente envolvente e inebriante. Ao falar apaixonadamente de Istambul (como falo dos livros do Orhan Pamuk e ele próprio da sua cidade em Istambul-Memórias de uma Cidade), ao partilhar esta emoção, o que imediatamente surge é a memória do cheiro a Lisboa, misturando-se ao odor do kebab e do chá de maçã. Da parte alta da cidade antiga de ruas estreitas, parecida com Alfama ou o Bairro Alto, vê-se a ponte, o rio, os ‘cacilheiros’, os navios a atracarem. E depois Istambul tem aquela luz branca muito parecida com a nossa, realçada pelos minaretes das mesquitas e das abóbadas de azul rosáceo. Referindo ainda o Istanbul Modern, um dos mais belos museus de arte contemporânea — e mais bem localizados — que nos é dado a conhecer. É de um requinte espantoso e tem muito em comum com o CCB, quanto mais não seja por estar próximo da água. O mais difícil de definir é a sensação de que há algo de tão perto como de tão longe entre Lisboa e Istambul. Está-se longe, estando-se em casa.



Rezar nas mesquitas, cruzar o olhar das pessoas na rua e nas lojas ou discutir com os vendedores do Grande Bazar e do Mercado de Especiarias, que falam tanto em turco, não os fossemos entender, como em inglês, citando a nossa selecção nacional de futebol e o grande Cristiano Ronaldo. Istambul é uma cidade de sensações, de cheiros do bazar das especiarias, de ambientes orientais e ocidentais, harmoniosamente combinados, das águas escuras e do odor do Bósforo...e a cidade mais do que uma ponte, é a amarra que pode assegurar uma união cultural e produzir efeitos inesperados entre a Europa e a Ásia.

José Vieira Mendes, Jornalista, Julho 2008

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