MOURINHO DA CULTURA

Monday, March 22, 2010

A GRANDE NOITE DO CINEMA EUROPEU




A cerimónia de entrega do EFA-European Film Awards (o correspondente aos Oscares para o cinema europeu), realiza-se hoje à noite em Bochum na Alemanha. Trata-de igualmente de uma grande oportunidade para reflectirmos sobre duas questões: existe uma indústria de cinema europeia e até que ponto ela pode concorrer com o potencial da indústria norte-americana? Em primeiro lugar interessa referir que as nomeações para os EFA foram anunciadas pela Academia Europeia de Cinema há cerca de um mês e estão muito longe de ter o mediatismo dos Oscares. Alguém se lembra sequer de haver alguma referência nos jornais ou nos rodapés dos noticiários da televisão? E é curioso pois nestas nomeações para Melhor Filme, constam dois premiados no Festival de Cannes 09: ‘Um Profeta’, de Jacques Audiard (Grande Prémio do Júri) e ‘The White Ribbon’, de Michael Haneke (Palma de Ouro); ou mesmo ‘O Leitor’, de Stephen Daldry e ‘Slumodog Milionaire’, de Danny Boyle, que estrearam na Europa em 2009 e que toda a gente esquece que são filmes produzidos e dirigidos maioritariamente com dinheiros e equipas europeias. Isto só a nível da nomeação para Melhor Filme. Para consultar todos os nomeados ver: www.europeanfilmawards.eu, até porque é possível que a RTP2 transmita a cerimónia em breve e convém estar bem informado. Efectivamente existe uma grande indústria europeia de cinema. E foi para para afirmar isto que a Academia Europeia de Cinema, presidida agora por Wim Wenders, criou esta cerimónia anual feita à imagem e com a elegância de Hollywood (posso dizê-lo por que já lá estive e vou estar esta noite!) que tem sido extraordináriamente útil, embora pouco eficaz do ponto de vista mediático e da promoção do cinema europeu junto do grande público. A propósito há muito que não me recordo de haver uma nomeação para um filme português. É inegável a representatividade e a existência de uma indústria europeia de cinema, mas é tão diversa e plural nas suas formas e conteúdos, tão variada do ponto de vista linguístico que se torna difícil falar de um verdadeiro cinema europeu mas antes de muitos ‘cinemas europeus’. No entanto há muitas coisas em comum entre um filme lituano e grego ou entre um filme português e checo: são feitos com orçamentos muito abaixo dos valores de referência da indústria de Hollywood; têm preferência por temas de cariz social em relação ao puro entretenimento; assentam no absoluto domínio do estatuto de realizador/autor (cinema de autor); utilizam uma linguagem cinematográfica muito diferente da de Hollywood que cria logo uma certa resistência no espectador. A razão desta resistência no espectador está no facto de que o cinema norte-americano contêm determinados códigos e uma leitura inteligível para qualquer espectador do mundo (universalidade). Ao passo que o cinema europeu (e outras filmografias do mundo) têm muita dificuldade em consegui-lo. Soa quase a estranho para determinados espectadores verem um filme falado em coreano, turco ou mesmo em alemão ou francês. O cinema francês por exemplo tem aquele velho estigma (injusto como podemos ver pela Festa do Cinema Francês) de ser um ‘cinema chato’. E depois à a questão das dobragens que funciona num países e em outros não. Os norte-americanos, espertos como sempre, encontraram há muito uma forma de ‘traduzir ou dobrar’ os filmes europeus aproximando-os dos seus próprios códigos (remakes), acabando por rentabilizar muito boas ideias do cinema europeu. É curioso também saber que em os países da União Europeia produzem por ano centenas de filmes, (em conjunto quase dez vezes mais do que a produção norte-americana) mas infelizmente a maioria estreia apenas ao nível da exibição nacional. Afinal quem gosta de cinema (s) europeu (s)? Infelizmente muito poucos, porque o espectador comum quando vê acaba por gostar. O problema é também as escassas apostas e riscos ao nível da distribuição e exibição nos países europeus. Embora existam programas comunitários de apoio. Mas isso seria um tema para outra crónica. Da cerimónia dos EFA espera-se como sempre o melhor e uma grande noite para o cinema europeu!

José Vieira Mendes, Jornalista

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