MOURINHO DA CULTURA

Sunday, May 04, 2008

Keith Jarrett - I Loves You Porgy, The Melody At Night, With You



Regressei às memórias do meu atelier na Rua D. João V, para ouvir este álbum estranho e ao mesmo tempo perturbador, já que remete para um passado feliz, para um espaço que eu cultivava e também na discografia e na música de Keith Jarrett. The Melody At Night, With You é um velho album sim senhor, que aparentemente estava esquecido nas minhas caixas da memória e que consiste numa interpretação a solo de piano que o músico gravou no seu home studio rural, em Nova Jersey em finais de 1997. Isto, numa altura em que foi confrontado com o diagnóstico de um síndrome de fadiga crónica, um sinal que que faz com que Jarrett dê um grande reviravolta na sua vida, na sua música e criação e principalmente na forma de enfrentar o mundo e amar. Contrastando com os seus álbuns anteriores a solo, que vivem de ritmos fortes, refinadas improvisações e elaboradas composições, este é constituído pela sobriedade dos seus movimentos ao piano, por uma suave e nostálgica sonoridade, e por um registo curto, simples e directo de baladas — algumas standards até bastante conhecidas — que fazem cortar o coração como Meditação (um original do músico) em que a única preocupação é o disfrutar da música e da interpretação, e quando o virtuosismo habitual de Jarrett parece desvanecer-se e ficar para segundo plano, dando espaço às sensações mais espirituais e menos espectaculares. É um álbum sentido e autêntico, marcado pelas circunstâncias, com relevo ainda para temas tão belos como I Loves You Porgy, (da ópera Porgy & Bess, de Ira e George Gershwin) que ilustra uma pura nostalgia e paixão pela vida ou como By My Love, (Howard Dietz e Arthur Schwartz), numa simbólica homenagem a Mario Lanza, romântica, mas ao mesmo tempo irreparavelmente tocante. A sustentável leveza destes dias vai-me dando tempo para as resdescobertas dos tons e das músicas (dos livros) que não têm nem idade e nem gosto. Gosto do que gosto, pronto! The Melody At Night, With You é um album que torna-se triste e até nostálgico como as circunstâncias, mas que se lixe! Há que reconhecer-lhe muito romantismo, muito charme e principalmente muita esperança, algumas das coisas simples que espero para o resto da vida. Já não tenho pachorra para ter de gostar do que os outros gostam, só para estar na tendência!

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