O (MEU) ÚLTIMO GRANDE HERÓI
PEDRO BANDEIRA FREIRE (1939-2008)
'Quanto a mim, as datas são como os relógios digitais. Olho para eles e vejo a hora que é, mas não sei o tempo que falta. Não me interessa de todo saber que hora é.(...) Os anos em termos de numeração também não me interessam. Para mim, os anos serão sempre não datas, mas números que, a não ser em caríssimas excepções, me ficam na memória. Não consigo dar uma ordem cronológica aos acontecimentos que se passaram na minha vida.(...)
Olhando para trás, e agora não posso deixar de o fazer, porque com maior obstinação vejo um túnel ao fim da luz, reconheço que tive uma existência encantada, no sentido que se dá às dos contos de fadas. Fui tocado muitas vezes pela varinha mágica com tudo o que isso possa significar de maravilhoso. Fiz obra, despontei um filho, escrevi algumas árvores e plantei alguns livros, imaginei uns filmes e muitos fazem parte do meu imaginário, espaireci na rádio e na televisão, andei por esse mundo, fiz tudo para pintar a manta e o diabo a quatro ou a sete.
Tudo isto me submerge numa grande emoção e num sincero sentimento de gratidão que tenho perante a vida.
Tudo acaba?Pois acaba!E daí...'
in 'P'ra Disfrutar', prefácio de 'Entrefitas e Entretelas'
Pedro, não sei o que me deu para ontem ver o 'Crónica dos Bons Malandros'...sem querer foi uma forma de me despedir de ti...
1 Comments:
Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho.
Eu sou um rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.
Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas, de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
(F.Pessoa)
Post a Comment
<< Home