MOURINHO DA CULTURA

Monday, March 22, 2010

UM TOBOGÃ CHAMADO ROSEBUD…




Na manhã seguinte à cerimónia dos Óscares 2010, todos noticiários dos canais de televisão anunciavam: «o grande derrotado desta noite foi ‘Avatar’ de James Camerom»… Embora se diga que a indústria do cinema pode estar ameaçada pela crise financeira mundial, e mesmo nomeando dez filmes da sua produção para a categoria principal dos Óscares, Hollywood não alterou nem um milímetro a sua concepção de negócio criada no início do século XX. «O cinema é o comboio eléctrico mais caro do mundo», dizia Orson Welles. Apesar do resultado nos Óscares, quem dera a muitas indústrias ou produções de cinema ter o James Cameron como maquinista. Na verdade, este grande sucesso de bilheteira não tem nada de novo, a não ser a combinação de várias tecnologias já existentes que, indubitavelmente, vão alterar a nossa ‘forma de ver’ e, se calhar, não só no cinema e na televisão. ‘Avatar’ já fez receitas superiores a 2.000 milhões de dólares, superando todas as expectativas dos executivos da Fox, cativando o público e uma boa parte da crítica, que teve que dar o braço a torcer. Onde é que está a derrota? Com ‘Titanic’, Cameron já se tinha tornado uma espécie de Salvador, aguardado com tanta avidez como ‘A Vida de Brian’ dos Monty Python. Ressuscitado, ao fim de dez anos, veio para salvar a Meca do cinema, cada vez mais baralhada com as greves dos argumentistas, dos actores e sobretudo imersa numa falta de ideias e criatividade. E até se regressou ao 3D. As motivações ocultas que explicam este novo recorde mundial de bilheteira só podem ser as da promessa de que ‘Avatar’ vai revolucionar o futuro do cinema. E, assim sendo, Hollywood e os espectadores aparentemente já chegaram ao Planeta Pandora, isto é, ao fascínio das imagens em detrimento das ideias. Algo que não é novo, pois os pioneiros do cinema, Samuel Goldwyn ou David O’Selznick já o faziam com eficácia, mas, ao mesmo tempo, com uma visão artística e de risco. Esta nova opção de Hollywood será boa se os espectadores estiverem dispostos a deixar-se fascinar apenas com tecnologias enfabulatórias e ideais frouxos, mesmo que neles estejam implícitas certas motivações ecológicas e pacifistas. No entanto, e vale a pena lembrar, há muito mais emoção num simples plano de um filme de Murnau, Ford, Hitchcock ou Lang e felizmente de muitos realizadores contemporâneos do que em todas as obras completas de James Cameron (ou mesmo de um George Lucas). Ainda bem que ganhou ‘Estado de Guerra’ de Kathryn Bigelow, pela sua visão artística e documental. Pois não se pode deixar que o futuro do cinema elimine por completo nem a arte, nem a magia da descoberta de um segredo como o de um tobogã chamado ‘Rosebud’.

José Vieira Mendes, jornalista

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