MOURINHO DA CULTURA
Tuesday, May 27, 2008
Monday, May 26, 2008
De LA VITA NUOVA: "Tanto gentile...
Tanto é gentil e tão honesto é o ar
da minha dama, quando aos mais saúda,
que toda a língua de tremor é muda,
e os olhos não se atrevem de a fitar.
E ela perpassa, ouvindo-se louvar,
vestida de humildade e tão sisuda,
que se diria que, do céu transmuda,
à terra veio milagres comprovar.
E é graciosa tanto a quem na mira
que dá dos olhos tal ternura ao seio,
que entendê-la não pode o que a não sente.
E é como se em seus lábios fora ardente
um espírito suave e de amor cheio
que, sem dizê-lo, às almas diz: - Suspira.
Dante Aligheri
Wednesday, May 21, 2008
Les poissons rouges
Comme des poissons rouges
Dans un aquarium
Autour de nous bougent
Des femmes et des hommes
Chacun son histoire
Son petit bout de vie
Ses peines , ses espoirs
Perdus dans l'oubli
Ainsi va la vie
Nageant entre deux eaux
Avec les plus gros
Qui mangent les plus petits
Comme des poissons tristes
Dans un grand bocal
On rêve d'être artiste
Dans une vie bancale
Chacun ses fantasmes
Ses petits morceaux de bleu
Ses rires et ses larmes
Au fond de nos yeux
Ainsi va la vie
Nageant entre de deux eaux
Tout plein de sanglots
Dans nos cœurs meurtris
Comme des poissons lune
Dans une mer trop grande
L'on cherche fortune
Y en a même qui se pendent
Chacun son destin
Ses petites heures de gloire
Avenir incertain
Entrée dans l'histoire
Ainsi va la vie
Nageant entre deux eaux
Ainsi va la mort
Au bout du rouleau
Comme des poissons chat
Echoués sur le sable
On ne pensent rien qu'à ça
Trouver l'insondable
Chacun son mystère
Sa foi, ses croyances
D'étranges prières
Noyées dans le silence
Ainsi va la vie
Nageant entre deux eaux
Poissons rouges repris
Pêcheur tout là-haut
Herve LAFFORGUE
Tuesday, May 13, 2008
CANNES INSPIRA-SE EM LYNCH E SARAMAGO ABRE O FESTIVAL
O cartaz e a identidade visual do 61º Festival de Cannes, que se realiza a partir de amanhã e até 25 de Maio próximos, inspiram-se numa fotografia de David Lynch e no filme Mulholland Drive. Esta é mais uma homenagem do Festival a um dos seus autores de elite, recriada pelo designer Pierre Collier, que concebeu a partir do cartaz todo um ambiente gráfico, que se destaca junto dos locais, edificios, hotéis de luxo, salas de cinema, Palácio dos Festivais, a sede por excelência do evento e ao longo de toda a Croisette, a marginal junto ao mar.
Começaram por ser vinte os filmes seleccionados para a Competição Oficial, mas já depois do anúncio, inesperadamente Blindness, do brasileiro Fernando Mereilles, numa adaptação do romance Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, vai fazer as honras da abertura, carregado de estrelas internacionais como Jullianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover e Gael Garcia Bernal. A Competição espera-se renhida e dificil para o júri presidido por Sean Penn, já que entre os cineastas a concurso estão veteranos como Clint Eastwood (Changeling), Steven Soderbergh (Che), Wim Wenders (Palermo Shooting), os irmãos Dardenne, (Le Silence de Lorna) que já ganharam duas Palmas de Ouro e revelações como Charlie Kaufman (Synedoche, New York), Lucrecia Martel (La Mujer Sin Cabeza), entre outros autores do mundo, já que Cannes é a maior mostra de cinema dos cinco continentes. Fora da competição Woody Allen vai dar um ar da sua graça com o seu último Vicky Cristina Barcelona, o filme que aparentemente ligou Penélope Cruz e o oscarizado Javier Bardem.
Cannes Classics 2008, um evento paralelo dedicado à apresentação de velhos filmes em cópias restauradas, tem este ano lugar sob o signo de Manoel de Oliveira, ao qual o Festival vai prestar uma vibrante homenagem pelo seu 100º aniversário, apresentando a sua primeira obra Douro, Faina Fluvial (1931, 18’).
Por ocasião das comemorações dos 40 anos da Quinzena dos Realizadores, outra competição paralela, que tem procurado uma certa tendência vanguardista nas suas apresentações, foi selecionado Aquele Querido Mês de Agosto, do realizador português Miguel Gomes, um filme rodado durante os verões de 2006 e 2007 e que nos dá um excelento retrato do interior e do Portugal de hoje, no mês em que os imigrantes regressam às suas origens.
Uma longa maratona de 11 dias de cinema, ao qual se juntam à Competição outras mostras paralelas (competitivas e não competitivas) como Um Certain Regard, Sessões Especiais, Curtas-Metragens, Cinefondation, Cinéma de La Plage, Semana da Crítica e algumas projecções especiais como Indiana Jones and Kingdom of the Crystal Skull, de Steven Spielberg, o documentário Maradona by Kusturica, de Emir Kusturica, ou What Just Happened, de Barry Levinson, com Bruce Willis, Robin Wright-Penn e Sean Penn, como filme de encerramento. Aguardada também com muita expectativa, é a Leçon de Cinéma, que terá lugar a 22 de Maio, este ano a cargo de Quentin Tarantino.
José Vieira Mendes (em Cannes)
Monday, May 12, 2008
'GOODNIGHT IRENE': UMA QUESTÃO DE TEMPO
Deste lado do Atlântico há efectivamente bom cinema. Fujam aos preconceitos em relação ao cinema português e numa altura que de uma assentada estreiam três filmes portugueses nas salas (e ainda Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, vai estar na Quinzena dos Realizadores em Cannes), por favor não percam uma pequena pérola da cinematografia nacional, chamada Goodnight Irene (tem curiosamente o título de uma popular canção norte-americana). Trata-se de uma primeira obra de um globetrotter chamado Paulo Marinou-Blanco que só por acaso é português e filmou Lisboa tão bem, que já não lembrava desde o tempo de A Cidade Branca, de Alain Tanner, já lá vão umas boas décadas. E como isso não bastasse, mostra o mais belo de Lisboa entre a Bica, o Bairro Alto e as vistas do Tejo, construíndo um extenso road movie entre o country quase plano de Portugal e Espanha, ambientes ideais para uma inspirada reflexão sobre a vida e a morte, sobre a causalidade e a passagem do tempo e sobretudo sobre as muitas formas de amar, entre as quais está incluída uma sóbria e saudável amizade entre três seres que nada têm em comum além de estarem pouco reconciliados com a vida. Que grandes são as personagens de Alex (interpretado pelo veterano inglês Robert Pugh) um solitário actor falhado, apaixonado pela cidade e as suas particularidades, ganhando a vida a traduzir audioguias de viagens ou a de Bruno, um jovem ladrão de memórias da vizinhança, ternamente personificado por Nuno Lopes. Irene (um excelento regresso de Rita Loureiro ao cinema, mesmo num pequeno papel-chave da história), é uma atraente e misteriosa pintora, que de repente desaparece para completar este triângulo obsessivo de ausências e solidão, que apesar de tudo possui uma paixão pela vida que falta aos outros. Não é o filme mais aguardado de sempre, nem sera finalmente o grande campeão do box office nacional. Não tem pretensões a isso. Goodnight Irene é um filme para quem procura uma história poética e sentida, certo para um serão de beleza, melancolia e gosto pela vida, que não pode passar despercebido, nem pela crítica, nem pelo público, pouco habituado a ver filmes portugueses, muito menos falados em inglês.
DEPOIS DA FRAMBOESA O CUSCUZ
Na semana passada saboreámos uma bela tarte de framboesa entre um beijo roubado e um tema da Nora Jones, em My Blueberry Nights-O Sabor do Amor, de Wong Kar-wai, para esta serviram-nos algo mais substancial, mas não menos romântico e inspirado com O Segredo do Cuscuz (La Graine et le Mulet), do franco-tunisino Abdellatif Kechiche (A Esquiva), onde nos deixámos encantar pela dança do ventre e por um prato tradicional árabe. Mas para além das comidas e dos sabores exóticos O Segredo do Cuscuz começou por ser a grande surpresa da última Mostra de Veneza e tornando-se num dos melhores filmes europeus de 2007. O Segredo do Cuscuz é uma história aparentemente simples e ligeira sobre uma extensa família magrebina, residente em Marselha, presa num quotidiano de tensões e sentimentos cruzados pela tradição e pelas instituições familiares. A figura central é um pai de meia-idade, ausente da família e desempregado que toma a iniciativa arriscada de abrir um restaurante tradicional, onde a especialidade é o famoso cuscuz com peixe, um empreendimento que poderá ajudá-lo a sobreviver e a congregar os seus afectos familiares algo tensos por uma relação extra-conjugal. Se há alguma dúvida para muita gente do que é fazer um filme simples acessível a várias leituras e públicos como um prato de cuscuz, O Segredo do Cuscuz, é o melhor exemplo de como ultrapassar as questões de orçamentais e as boas histórias que muitas vezes faltam ao cinema europeu. Talvez a simplicidade seja o seu maior segredo, do cuscuz e do filme. Um destaque para Rym (Hafsia Herzi) a personagem vulcânica destes filme, imparável na sua dança do ventre, que valeu à jovem actriz os prémios revelação de Veneza e um César do cinema francês. Uma boa refeição cinéfila!
Monday, May 05, 2008
MY BLUEBERRY NIGHTS, UM BEIJO ROUBADO...
TODOS FILMES CONTAM UMA (s) HISTÓRIA (s)
(…) Em primeiro lugar My Blueberry Nights, é um filme belo, romântico e delicioso. Delicioso porque o seu ponto de partida simbólico é uma tarte de mirtílio (ou framboesa), numa história ou melhor várias histórias de amor e roturas violentas, entre vários personagens, que cruzam os EUA de uma costa a outra, através da famosa Route 66. A pivot desta (s) história(s) é uma surpreendente Nora Jones (Leslie) que vem confirmar além da sua fotogenia, um excelente talento interpretativo em diálogo com actores tão carismáticos como Jude Law (Jeremy), Rachel Weisz (Sue Lynne), Natalie Portman (Leslie) ou David Strathairn (Arnie). My Blueberry Nights é um filme terno e sentimental até às entranhas e que nalguns momentos até arrepia. Mas que mal tem isso. As suas referências até pertencem ao realizador de Hong-Kong: o tom de comédia romântica, as repetições de takes, as mudanças sucessivas de velocidade de registo e os desfocados, que caracterizam Chunking Express, o filme que melhor revelou Wong Kar-wai no ocidente. Isto, sem perder a sofisticação e a estilização dos seus dois filmes anteriores que passaram também aqui por Cannes: Disponível para Amar ou 2046. Nesta sua primeira ‘experiência americana’, Wong Kar-wai não se deixa intimidar pelos ambientes, nem perde a sua identidade, construído um filme maravilhoso, que tem mais que pernas para andar, com muito jazz em fundo — onde curiosamente além da voz de Norah Jones, estão outras divas como Cassandra Wilson e Cat Power — numa magnífica banda sonora coordenada por Ry Cooder. Logo à noite há mais!
In premiere-portugal.blospot.com, Maio, 2007
Sunday, May 04, 2008
SCARLETT JOHANSSON CANTA 'FALLING DOWN'
Ela também canta…ela é Scarlett Johansson os lábios mais sensuais do cinema da actualidade…e canta muito bem as canções de Tom Waits ao ponto de nos levar ao país das maravilhas, como por exemplo neste tema Falling Down:
Em principio está previsto para meados deste mês de Maio o lançamento de Anywhere I Lay My Head, o álbum de estréia da actriz Scarlett Johansson, que revisita com muito talento a música de Tom Waits e na companhia de outros grandes mestres da transfiguração como por exemplo David Bowie. Anywhere I Lay My Head é composto por dez versões para os temas de de Tom Waits, além de um original Song For Jo, escrito e interpretado por Johansson. O disco tem participações de nomes como Nick Zinner, guitarrista do trio de Nova York Yeah Yeah Yeahs, e de David Bowie, que participa em duas faixas: Falling Down e Fannin' Street, temas esses onde está sem dúvida marcado o estilo interpretativo do cantor que assenta que nem uma luva na voz sensual da actriz. O álbum foi produzido por David Sitek, membro dos Nova York TV on the Radio.
Já não é a primeira vez que Johannson, aparece a cantar pois já debutou em What Goes Around... Comes Around, uma canção de Justin Timberlake lançada em FutureSex/LoveSounds (2006), e participou ainda no espectáculo que marcou o regresso aos palcos do grupo escocês The Jesus and Mary Chain no festival Coachella, em 2007. É o mesmo que dizer que Scarlett é a mulher quase perfeita!
Keith Jarrett - I Loves You Porgy, The Melody At Night, With You
Regressei às memórias do meu atelier na Rua D. João V, para ouvir este álbum estranho e ao mesmo tempo perturbador, já que remete para um passado feliz, para um espaço que eu cultivava e também na discografia e na música de Keith Jarrett. The Melody At Night, With You é um velho album sim senhor, que aparentemente estava esquecido nas minhas caixas da memória e que consiste numa interpretação a solo de piano que o músico gravou no seu home studio rural, em Nova Jersey em finais de 1997. Isto, numa altura em que foi confrontado com o diagnóstico de um síndrome de fadiga crónica, um sinal que que faz com que Jarrett dê um grande reviravolta na sua vida, na sua música e criação e principalmente na forma de enfrentar o mundo e amar. Contrastando com os seus álbuns anteriores a solo, que vivem de ritmos fortes, refinadas improvisações e elaboradas composições, este é constituído pela sobriedade dos seus movimentos ao piano, por uma suave e nostálgica sonoridade, e por um registo curto, simples e directo de baladas — algumas standards até bastante conhecidas — que fazem cortar o coração como Meditação (um original do músico) em que a única preocupação é o disfrutar da música e da interpretação, e quando o virtuosismo habitual de Jarrett parece desvanecer-se e ficar para segundo plano, dando espaço às sensações mais espirituais e menos espectaculares. É um álbum sentido e autêntico, marcado pelas circunstâncias, com relevo ainda para temas tão belos como I Loves You Porgy, (da ópera Porgy & Bess, de Ira e George Gershwin) que ilustra uma pura nostalgia e paixão pela vida ou como By My Love, (Howard Dietz e Arthur Schwartz), numa simbólica homenagem a Mario Lanza, romântica, mas ao mesmo tempo irreparavelmente tocante. A sustentável leveza destes dias vai-me dando tempo para as resdescobertas dos tons e das músicas (dos livros) que não têm nem idade e nem gosto. Gosto do que gosto, pronto! The Melody At Night, With You é um album que torna-se triste e até nostálgico como as circunstâncias, mas que se lixe! Há que reconhecer-lhe muito romantismo, muito charme e principalmente muita esperança, algumas das coisas simples que espero para o resto da vida. Já não tenho pachorra para ter de gostar do que os outros gostam, só para estar na tendência!
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